Emily in Paris sob um olhar da moda
Paris, redes sociais, figurino polêmico, triângulo amoroso e uma comédia romântica repleta de dramas jovens. Uma deliciosa nostalgia para quem amava a moda e os clichês da década de 2000.
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Paris, redes sociais, figurino polêmico, triângulo amoroso e uma comédia romântica repleta de dramas jovens. Uma deliciosa nostalgia para quem amava a moda e os clichês da década de 2000.
Desde Gossip Girl e Sex and The City, nenhuma série havia tido repercussão tão expressiva sobre a moda, especialmente em tempos de quarentena. Emily in Paris foi tudo o que Girl Boss jamais sonhou e muito mais!
O seriado da Netflix, lançado no dia 3 de outubro de 2020, traz todos os ingredientes para a receita de uma série viral: Paris, redes sociais, figurino polêmico, triângulo amoroso e uma comédia romântica repleta de dramas jovens. De fato, Emily in Paris parece que saiu da década de 2000 e conquistou os corações nostálgicos de quem amava a moda e os clichês dessa época.
Emily in Paris tinha a faca e o queijo para conquistar os corações dos telespectadores e realizou com maestria. Seja pela composição da série ou devido às tensões da pandemia que resultaram em uma sede por consumo de moda, o seriado foi um sucesso e se tornou meme nas diversas redes sociais (quem não viu um meme de “Emily em Goiânia” por aí?). O enredo leve funcionou como alívio cômico para as ansiedades de quem estava em quarentena há meses.
Verdade seja dita, antes mesmo do seriado ser lançado, já havia grandes expectativas a respeito do figurino de Emily. O styling foi assinado por Patricia Field, também responsável por Sex and The City e O Diabo Veste Prada, entre muitas outras produções que lançaram tendências incríveis nos últimos 30 anos. A forte influência da moda de décadas passadas por parte da figurinista somada ao enredo leve de comédia romântica fizeram parecer que a série, literalmente, saiu dos anos 2000 ou 2010. Uma deliciosa nostalgia, concordam?
Emily Cooper é uma típica jovem estadunidense nos seus vinte e poucos anos que jura que os Estados Unidos é o centro do mundo. De forma arrogante e individualista, se muda para Paris a fim de trabalhar em uma agência de publicidade sem nem ao menos aprender a língua local antes. Além disso, em diversos momentos a personagem faz questão de enfatizar que o seu papel na agência é “trazer o ponto de vista americano”. De certa maneira, ela faz lembrar Audrey Hepburn, em Cinderela em Paris.
Já nos primeiros episódios, Emily deixa claro que é uma basic bitch (ringard, como diria Pierre Cadault) que entende pouco sobre moda além do que lhe é mostrado em Gossip Girl e nas revistas de moda. Talvez, esse seja o elemento X da receita viral: consumimos flagelos, fragmentos do que realmente é a moda e o Savoir-Faire francês, portanto, nos identificamos com os comportamentos e o vestuário caricatural da personagem.
Por meio dos clichês, da foto do croissant, do exagero do styling (com boina, luva e contraste de cores) vivemos indiretamente a Cidade Luz! (com um pain au chocolat em uma das mãos e uma bolsa Chanel na outra)
A série faz um enorme exagero dos estereótipos americano e francês, tanto no estilo de vida quanto no vestuário. Esse é um dos motivos pelo qual o seriado mais foi criticado pelos especialistas em moda. Não são as peças de roupa alvo das críticas, porém a acumulação de Emily (a sobreposição de padrões, camadas e cores brilhantes, os chapéus rosa e violeta, o lenço rosa e a mistura de texturas).
De fato, muita informação contrasta na composição de vários looks da Emily, às vezes em desarmonia.
Além disso, as roupas da personagem parecem fora de contato com a realidade, tanto na alfaiataria quanto no dia a dia. As roupas são muito brilhantes, vistosas, caricaturais e pouco versáteis para o dia a dia. Os saltos altos que Emily usa no seu cotidiano não têm nenhuma praticidade para a rotina de um parisiense real que utiliza o metrô e caminha por ruas sinuosas.
Na verdade, não estamos preocupados se o guarda-roupa de Emily é realista ou não! Claro, com seu salário provavelmente ela não poderia pagar por todas as edições limitadas da Chanel, os saltos Louboutin ou os acessórios Dior que usa regularmente.
Talvez, o exagero caricatural das roupas de Emily seja intencionalmente para enfatizar a diferença entre ela e Paris (levando a metáfora de peixe fora d’água ao extremo). O guarda-roupa está em total discordância com o ambiente, assim como a personagem encontra-se deslocada ali. Entretanto, conforme a série evolui e os episódios vão passando, percebemos o empenho da personagem em se adequar e a manifestação disso no figurino. Ela usa e abusa dos clichês franceses: boinas, lenços, pied de poule e xadrez.
A contraparte francesa ao vestuário de Emily, representada por Camille, combina peças de roupa de forma muito mais coerente, com cores sóbrias e looks práticos para a vida real. A Vogue Singapura elegeu Camille a verdadeira estrela fashion de ‘Emily in paris’.
Camille exala a ilusão de uma garota francesa sem esforço desde sua primeira aparição na floricultura, onde está vestindo um casaco marinho discreto em contraste direto com o casaco fúcsia brilhante de Emily.
Um grande acerto do seriado foi descrever com precisão os debates da indústria da moda e do luxo sobre as formas de publicidade contemporânea. As tensões dentro da indústria entre o maçante marketing digital e a velha mídia persistem também no mundo real, fora do catálogo da Netflix.
Ademais, os debates sobre o elitismo masculino dentro da publicidade e da moda também são muito coerentes com o cenário social em que vivemos. Ainda, o olhar masculino sexista predomina em diversas campanhas milionárias com as quais as mulheres simplesmente não se identificam.
Emily in Paris é uma nostalgia e tanto para os amantes da moda dos anos 2000. Porém, também traz diversas problemáticas que os filmes e seriados dessa época implicam: pouca diversidade no elenco, relações abusivas de trabalho e enredo heteronormativo. Do ponto de vista da moda, o figurino é bem distante do que os jovens usam hoje, além de só dar visibilidade para as tradicionais casas de moda, esquecendo o amplo espaço conquistado pelas novas grifes vanguardistas em todas as categorias de moda.
Ainda que envolva roupas de grife, combinações inusitadas e styling único e cheio de personalidade, Emily não chega aos pés de quem foi Blair Waldorf ou Carrie Bradshow. Não é apenas o figurino que compõe uma personagem ‘fashionista’, mas também o enredo bem construído, forte personalidade e presença de palco. Será se Lily Collins vai dar conta do recado?
Cabe a nós acompanhar a evolução da personagem e do figurino. Estamos ansiosos pelas próximas temporadas! Confira abaixo os 5 melhores looks usados por Emily durante a primeira temporada:
Para quem ama looks monocromáticos aqui está a obra-prima de toda a série!
A combinação encaixou-se perfeitamente para o momento, porque não estamos falando da cor, mas sim do sentimento-fúcsia que é um humor da cabeça aos pés!
Uma mistura de grifes e cores sólidas que tinha tudo para dar errado, mas contrariando as leis físicas da moda deu muito certo! Bravo, Emily, bravo!
Existe clichê maior do que comprar rosas na floricultura da esquina, em Paris? O casaco Kenzo de cashmere rosa brilhante e a bolsa Chanel nos fazem sonhar, enquanto a camiseta pastel, meia-calça preta e tênis completam o look com um agradável toque de realismo.
Lily Collins usando um vestido com estampa de lírio? Muito francesa! O vestido funcionou perfeitamente, criando espaços para respirar e esculpindo zonas vazias onde a beleza e a personalidade podem emanar naturalmente.
Não dá para esquecer a influência de Blair Waldorf para este look!
Ela está nos dando Audrey Hepburn em Funny Face. Ela está nos dando Andy no baile de O Diabo Veste Prada. Ela está nos dando Blair Waldorf. Ela está nos dando o melhor de Emily e nós amamos!
Adorei !!
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Fico feliz que gostou! 🥰
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